sábado, 9 de agosto de 2014

«Encontro em Itália» - Opinião

Bem, por onde começar? Este livro causou-me sentimentos ambíguos: Começou muito bem, com aquela parte contemporânea arrebatadora que me fez entrar no livro de cabeça. A Liliana tem este dom: arrastar o leitor para o seu mundo, levá-lo a esquecer-se de onde está e fazer tão parte da história como qualquer um dos outros personagens. Tudo, desde o pedido de amizade de Henrique a Sara, me viciou e me deixou presa àquelas páginas. Eu, menina dos romances contemporâneos, não pude resistir ao amor que toda a história prometia e confesso que adorei os dois: o Henrique, no seu lado calmo e sensato, e a Sara, a chama acesa, mas também Pedro, um cómico com algumas saídas muito engraçadas, a Bia, com uma personalidade viva que a leva a ser frontal de uma forma especial, e até Olga e André: amei estes dois. Sou fã de badboys e badgirls e eles estavam excelentemente caracterizados. Aquela cena na praia entre os dois está simplesmente perfeita e confesso que o André, com aquela sua obsessão pela Sara, sempre me fascinou: um homem rude e agressivo, que se torna um anjo perto dela. A Liliana é muito boa nestas cenas fortes.
 
 
Tenho de admitir, por outro lado, que detestei a Isabel: uma cópia da Sara e um pau mandado, sem personalidade e vontades próprias. Só a explicação final das suas atitudes me levou a tolerá-la ligeiramente.
Quando Henrique chega a Portugal, vê a nova Sara e conhece Isabel, a irmã dela, a coisa caiu-me mal: revoltou-me um bocado que ele se sentisse atraído por ela só pelas semelhanças que tem com a irmã e irritou-me o facto de nem se interessar em saber o motivo pelo qual Sara mudara tanto. É claro que tudo isto tem uma explicação mais à frente e eu agradeci mentalmente à Liliana por isso, mas a verdade é que aquilo que senti na altura não se apagou e custou-me. Desiludi-me com o Henrique e com a sua falta de tacto. Depois, esperava outro reencontro, mais intenso, mais verdadeiro, mais tudo...eu sei que eles estiveram sete anos separados, mas a minha visão romântica das coisas não pôde deixar de se recriminar pela forma como tudo acontecia. No entanto, tenho a dizer que a entrada da Isabel em cena fez com que eu temesse pelo amor entre os dois personagens principais e isso é bom! É o que se quer!
Acordei do livro, por assim dizer, quando a viagem a Itália se inicia. Deixei-me aborrecer nesta parte: a distância que existia entre Henrique e Sara, quando eu só queria que falassem do passado e de tudo aquilo que ficou por dizer, não ajudou. As discussões intensas, a atitude estúpida do Henrique...tudo me magoou...e confesso que com tudo isto, já me tinha esquecido que isto era uma história sobrenatural. E é aqui que entra o livro e a gata que fala: Haari. Acho que, com o esquecimento e no meio do sofrimento que sentia por Henrique e Sara, não estava preparada para isto. O sobrenatural custou-me a entrar, quando a parte contemporânea estava tão boa, e o que senti a partir daqui foi um pouco estranho: era como se estivesse a ler duas histórias distintas, sem grande interligação; quando os problemas de uma ainda não estavam resolvidos, entraram os de outra e eu dei por mim a desejar regressar ao Palhinhas, a André, a Paulo e a Bia, a minha zona de conforto onde tinha sido tão feliz no início da história.
É quando Henrique e Sara regressam a Portugal que a acção recomeça e, entre partes contemporâneas e sobrenaturais, dei por mim a entender o encaixe de cada ponta solta e a adorar o livro, mais uma vez. Apaixonei-me pela Haari, pela nova relação entre Sara e Henrique e por todos os problemas que existiam entre este mundo e o outro. Confesso que li as últimas páginas sofregamente, com medo do que pudesse acontecer! Suspirei de alívio quando o final foi exactamente o que eu esperava: lindo! Só senti falta da Bia e do Paulo: queria muito que se entendessem! Talvez num próximo volume?
Obrigada, Liliana, e parabéns por mais esta história e este mundo para o qual me arrastaste e para o qual me deixei ir de livre vontade, onde fui muito feliz. Outras obras se aguardam e...nunca deixes de escrever! :)
 
Deixo abaixo um excerto da obra, de uma das minhas cenas preferidas:
 
 
- Neste momento, o que me preocupa é que, de forma inconsciente, possas estar a olhar para a Isabel e a ver a Sara. E que talvez tarde demais descubras que a semelhança entre as duas se limita ao que o espelho mostra. A Isabel não é a tua amiga de infância; não foi com ela que aprendeste a ler e a escrever; não foi com ela que construíste a casa da árvore que ainda hoje está no jardim; e não é ela que está a precisar de ti neste momento". 

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quarta-feira, 21 de maio de 2014

«Um dia perfeito» - Nora Roberts - Opinião

Uma leitura agradável, mas com um final um pouco apressado, a meu ver. A própria relação entre Mackensie e Carter foi demasiado fugaz. A forma como se encantaram, envolveram e apaixonaram foi repentina e faltou-lhes credibilidade, em suma, tempo e espaço. Uma relação algo fútil, sem grande profundidade, que teve, no entanto, momentos felizes e divertidos.





Começava a acreditar neles quando a autora me diz:
- E é isto. Acabou.
Eu perguntei:
- Já?
E ela impingiu-me o primeiro capítulo do próprio volume.
-Diverte-te com a Emma.

Pontos positivos: Gostei bastante do passado da Mac, da sua relação com a mãe e dos seus complexos e problemas de confiança/segurança devido a isso. Gostei da personagem, da sua relação com as amigas e da profundidade do seu meio profissional.
O Carter é um nerd querido e fofinho, muito bem construído.
O Bob é um amigo cómico e eu ri-me bastante com ele e com as suas listinhas de deveres.
As amigas de Mac têm também as suas próprias personalidades vincadas e eu estou curiosa para conhecer mais delas. São verdadeiras amigas, sempre presentes numa tempestade, por isso pontos para elas.

Pontos negativos: Para uma pessoa insegura e desconfiada, que passa a vida sem saber o que fazer à vida - avançar/recuar? amar/detestar? Mac mudou de atitude muito repentinamente, no final da história. Percebi que era o final pelas conclusões previsíveis da personagem, em relação aos seus próprios sentimentos, mas pareceu-me que a história tinha sido cortada forçadamente, por um motivo que desconheço. Será o caso? Um maior aprofundamento da relação amorosa entre os dois protagonistas e um desacelerar da narrativa em direcção ao final tão ansiado teria valido pontos à história, que é engraçada, divertida e está bem escrita, mas...faltou-lhe alma. Nora Roberts é capaz de bem melhor.
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domingo, 11 de maio de 2014

Opinião «A Chama ao vento» - Carla M. Soares

Mais uma vez, Carla Soares não desiludiu, pelo contrário, surpreendeu. Li a sua primeira obra, «Alma Rebelde», e não me tendo arrebatado, gostei imenso e estava ansiosa para ler o seu novo romance, quando lhe vi o brilhozinho nas redes sociais. Apressei-me a comprá-lo e ainda tenho um sorriso nos lábios ao recordar a obra, que terminei há pouco.
 
 


Uma coisa que adoro na autora é a sua capacidade de se reinventar, de assumir tantas cores quanto um camaleão, mudando de pele e de personalidade como quem muda de roupa. Escreve géneros literários distintos e é admirável que o faça com mestria, em cada trabalho.

Este é um romance que se divide em duas partes: presente e passado, os estilos contemporâneo e histórico a envolverem-se numa dança brilhante, que me deixou com os olhos pregados nas páginas e as ideias bem longe da realidade e presas à história. Primeiro, aquele início: Um corpo é atirado ao mar...que corpo? Prendeu-me e quando dei por mim, com as algemas bem presas aos pulsos, já não conseguia libertar-me. Tive de esperar muito tempo para perceber a que se referia a autora com este princípio de história, mas valeu bem a pena a espera. Foi um golpe de mestre.

Francisco, o personagem principal, cativou-me desde o princípio, com aquela personalidade peculiar, fruto de muita coisa mal resolvida que o leitor vai descobrindo ao longo da leitura. Conheço uma pessoa muito parecida e talvez por isso me tenha identificado tanto com ele. Também sofri muito ao colocar-me na sua pele de menino abandonado. Adorei-o, adorei a Teresa e a relação que mantinham, e quando o passado se impôs entre os dois, senti a sua ausência na história. Não foi uma coisa negativa. Era uma saudade boa, que ia sendo colmatada com a verdade de Francisco, a vida da avó, Carmo, e Dekel, que me destroçaram o coração, e o pobre João, para quem desejei sempre mais do que aquilo que teve.

Todo o livro foi chama, não a chama extinguida do olhar de Carmo, mas a chama sempre acesa daquilo que foi um dia. O vazio e a solidão das personagens eram sempre colmatados com amor e amizade, momentos ousados que a autora soube desenhar ao longo das páginas.

Depois, a vertente histórica: Todo o passado foi bem retractado, com elementos históricos bem definidos no seio da segunda guerra mundial: a excitação das gentes de Lisboa, o medo dos que sabiam, a inocência dos que ainda viviam nos tempos de ouro, vendo tudo, mas fingindo não ver. E no meio de tudo isto, um amor que me partiu o coração e que explicou, de muitas formas, a maneira como uma chama pode ser apagada com a força do vento.

Acho que as analepses que caracterizaram toda a história foram muito bem metidas, cativando sempre o leitor a ler mais e mais, dando-lhe apenas pedaços de verdade, que só servem para o tornar impaciente.

Gostava de ter visto mais de Francisco e Teresa. Apesar dos poucos momentos que passaram juntos ao longo da história, prenderam-me com uma química muito especial e eu adoraria que a autora pegasse na continuação desta história e que os desenvolvesse, mostrando, ao leitor, a forma como Francisco acabou por lidar com as barreiras que destruiu em torno de si próprio. Estas acabaram por cair-lhe aos pés e Teresa entrou no seu mundo com a sua permissão. Mas será assim tão fácil? Francisco ergueu à sua volta muros altos e inquebráveis e eu gostaria de saber como lidaram ambos com este novo Francisco.

Por fim, a escrita: Não é novidade. A escrita da autora é sublime, bonita, fluída, com recurso a metáforas fantásticas, que eu adorei. Era um livro que merecia ter um destaque maior em papel. O leitor que tiver acesso a ele, quererá tê-lo na estante e espero que a editora possa apostar nisso.

Recomendo e quero mais livros da autora! :D
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quinta-feira, 8 de maio de 2014

Angústia


 
Cresce em mim uma angústia desesperante que os dias de chuva não levaram com a sua tristeza dos dias de Abril.
 


Esta primavera com sabor a Verão tem-me sabido bem. Tem-me trazido uma falsa felicidade. Não será sempre falsa? Ou falsas, as ilusões. Tudo muda num segundo, ou pode mudar.
 
Cresce em mim a angústia de perder. Perder aquilo que tenho, aqueles que amo, o mundo como o conheci. Tenho pensado para mim que a informação está a dar-me cabo do juízo. A informação da Internet, dos jornais, das televisões, das redes sociais. Informação, informação. Drama e mais drama. E depois, a ironia: eu própria fiz essa informação, um dia.
 
É possível viver assim? É possível viver sempre na ânsia de perder, porque conhecemos o vazio, a tristeza e a dor? É a dor dos outros, sempre a dor de desconhecidos, quando vemos, ouvimos e lemos a informação de fora. Mas quando nos toca? O mundo desaba, deixamos de ver, de ouvir e de ler. As pernas tremem, o coração acelera e deixamos um pequeno animal nervoso, cessando o seu ladrar impertinente para nos olhar, curioso, com os olhos tristes e brilhantes.
Está tudo bem, digo-lhe. Tudo bem. 
Outra mentira, outra ilusão. Pessoalmente, não preciso que me falem de dramas para ser dramática. A tragédia corre-me nas veias e preciso frequentemente de encontrar o meu refúgio. Hoje encontrei-o. Ainda não foi hoje. E repito:
Está tudo bem.
Desta vez, é verdade. Ainda nada mudou. Ainda não há um problema definitivo. Ainda existe uma solução. Vou acreditar nela, durante o dia, mas sei que, em algum momento dos meus sonhos, os pesadelos vão regressar e recordar-me de que não posso distrair-me.
Tens de continuar a preocupar-te, diz-me a voz dos sonhos. Tens de te preocupar.
Não me parece que faça outra coisa. Faço sempre isso, quando a minha mãe me envia uma mensagem em horas pouco habituais, ou me telefona com voz de constipada. O coração salta-me no peito.
Estou constipada, filha, quero que me diga. Só quero que me diga isso. E por vezes, diz. Por favor, continua a dizê-lo. Por favor, não me tires o chão. É só uma constipação. Vai passar.
Onde fica a vida? Onde fica o sonho? Onde fica o futuro? Conseguirá alguém continuar a viver sabendo o que de pior acontece aos outros? E no meio de tudo isto, tenho de continuar a sorrir, porque amo a vida. Amo os meus amigos, os meus familiares, o meu trabalho e os meus meninos da ginástica, que me dão tantos sorrisos. Amo as palavras, amo os livros, amo aqueles que conheci através deles. No meio disto tudo, tenho de acabar por aqui. Tenho de voltar a sorrir, voltar a escrever, voltar a esperar. Porque sem esperança, não acredito mesmo que possa viver.
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sábado, 5 de abril de 2014

Opinião - «Sozinhos na ilha» - Tracey Graves

Já li este livro há algum tempo. Terminei-o precisamente na noite de passagem de ano e acabei por não ter tempo de escrever uma opinião sobre ele, durante a época de festas. Depois surgiram outras leituras e esta crítica acabou por passar, mas o livro não ficou esquecido e irei recordar sempre a história com carinho.
 

Tenho um aviso a fazer: história altamente viciante! Li-o em e-book (foi um tremendo presente de Natal) e tenho muita pena de não o ter na minha estante, para que eu possa sorrir-lhe sempre e recordar-me da Anna e do T.J. por entre a areia, as águas azuis e os golfinhos simpáticos da ilha que os acolheu, depois da queda do avião onde seguiam, e que acabou por se tornar na sua casa durante anos.

Foi uma obra que me arrebatou completamente. Adorei cada pormenor de sobrevivência, cada gesto de amizade e de amor entre a Anna e o T.J., uma relação maravilhosa que vai crescendo a um ritmo alucinante e viciante e que me manteve presa às páginas do livro até à última letra. Na altura, andava desiludida com as minhas últimas leituras e estava pronta a pôr as culpas na minha Kobo, por não estar habituada a ler em e-reader e pensar que as obras não teriam em meios digitais o mesmo gosto do folhear das páginas por entre os dedos. Como estava enganada! Um bom livro lê-se em qualquer sítio, num e-reader, numa folha de papel esborratada e até às escuras.

Foi a minha estreia com a autora e surpreendeu-me pela positiva. T.J. é um personagem com P maiúsculo, pela sua tenra idade e, ao mesmo tempo, maturidade em relação aos jovens da sua idade, talvez pelo problema de cancro que havia ultrapassado e que o moldara de alguma forma. O seu altruísmo, a sua generosidade e a forma como amou a Anna, não um amor repentino, mas bem delineado, bem pensado e escrito, com as palavras, a química e os gestos na altura certa, conquistaram-me. Não me parece possível que um leitor não acredite no amor entre estes dois. A Anna, por seu lado, uma mulher adulta e madura, incapaz de sucumbir aos ciúmes ou de impedir o T.J. de viver a sua vida, mesmo sabendo que podia perdê-lo. Ela libertou-o para que ele voasse de volta para si, se o pretendesse, e penso que essa é a mais bonita forma de amar.

O que dizer daquele primeiro beijo, no abrigo? O que dizer da forma como a Ana tratou o T.J., quando ele mais precisava, e de como ele próprio o fez com ela, quando Anna sucumbiu à fraqueza? As cenas íntimas entre ambos foram simplesmente lindas. Arrepiei-me, chorei e sorri e...nem sei. Só sei que Tracey Graves fez as coisas tão bem que só tenho de elogiá-la.

Aquele final fez-me chorar de felicidade e podem ter a certeza de que entrei mais feliz no novo ano. Amei e quero mais! Recomendo :)
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Opinião - «Memória das minhas putas tristes» - Gabriel García Márquez

Ok, que livro estranho. Tem, na sua maioria, boas classificações, o que me leva a pensar: Será que é falha minha? Foi o primeiro livro que li do autor Gabriel García Márquez e estava há tanto tempo na estante que pensei: é desta.
 
 
 


Confesso que a leitura me desiludiu um pouco. A escrita é boa, embora, na versão que li, não se faça distinção entre um diálogo e o texto corrido, nem com travessões ou sequer itálico. Admito, no entanto, que me foi fácil perceber a quem pertencia cada voz. Este é o mal menor.

Acho que o mal está na história: um velho jornalista decide, no dia do seu 90.º aniversário, dar um presente a si mesmo e desflorar uma virgem no bordel da sua velha amiga Rosa Cabarcas, onde passou tantas noites da sua vida, visto ser um homem que nunca casou, dedicando-se inteiramente às artes do sexo, por entre os lençóis das suas "putas tristes". E triste é a história, também. A sua velha amiga acaba por arranjar-lhe uma virgem de catorze anos que, de tão assustada pela sua primeira vez, tem de ser sedada e o velho jornalista encontra-a sempre a dormir, dessa e de todas as outras vezes em que a visita.

A minha pergunta é: Porquê, meu Deus? E esta pergunta serve para muitas coisas: Porque é que que um velho de noventa anos quer desflorar uma virgem? Não se chamaria a isso pedofilia, mesmo que a virgem seja uma puta? Compreendo os motivos dele, dado o seu carácter sempre leviano, mas porque não outra mulher qualquer?

Ponto dois: se o autor escolheu mesmo uma virgem, pela qual o jornalista acaba por se apaixonar (não pelo que Delgadina, como a chama, é, mas pelo que parece, nua e jovem a dormir ao seu lado, visto que nunca chegam a conversar, ou a olhar-se, sequer) porque é que ele nunca chega a apanhá-la acordada? O medo da sua primeira vez tinha de desaparecer, eles tinham de manter um diálogo, uma interacção, uma química, mas nada disso acontece. Este velho a quem Rosa Cabarcas intitula de sábio mantém uma paixão platónica pela miúda de catorze anos que não passa disso mesmo, e aproveita-se dela enquanto dorme, seja com beijos e carícias, seja com histórias que lhe conta e músicas que lhe canta aos ouvidos. Depois ainda lhe chama "puta" alto e bom som, quando pensa que ela já não é virgem, e Delgadina continua sem lhe responder ou olhá-lo, limitando-se a encolher-se, enquanto ele tem um ataque de ciúmes, quando a rapariguinha nunca foi dele e, convenhamos, jamais poderá ser. Começo a desconfiar que Delgadina nunca existiu, senão na mente do velho jornalista.

E pronto. Fim de história. Delgadina nunca chega a acordar e ele fica à espera da morte, sem nunca ter conhecido a mulher por quem platonicamente se apaixonou.

Isto foi estranho, principalmente se tentarmos imaginar a história pela cabeça de um homem de noventa anos, apaixonado por uma miúda de catorze que só existe nos seus sonhos. As minhas duas estrelas vão para a escrita do autor, que é bonita e fluída, mas a história não me cativou. Foi aborrecida e confesso que estava a desejar que as páginas terminassem.
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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Opinião - «Nas teias do poder» - Fernando Teixeira

«Nas teias do Poder» é o primeiro livro, creio, do jovem autor Fernando Teixeira, que o escreveu quando tinha apenas dezasseis anos. Arrisco dizer que foi demasiado cedo. É uma história com apenas 96 páginas que me custou mais a ler do que muitas de 600.
 
 
Até a meio do livro, não percebi, sinceramente, qual era a história. Penso que não existia. O que lia eram apenas fragmentos de pensamentos do autor, sem contexto, nem nexo, divagações imperceptíveis sobre a actualidade no geral. A partir do meio do livro, continuei sem perceber a história, se era um surto de gripe no País, se era uma crítica social à actualidade política, com um aprofundamento muito fraco, um romance entre a fictícia ministra da saúde e o seu grande amor René, ou ainda um romance policial, quando este último tenta vingar-se pelo facto de Marisa o ter abandonado e acaba por raptá-la.

Para além de a estrutura/enredo não funcionar, pois não existe uma ideia de história definida, tudo foi escrito muito à pressa. Parecia que o autor estava a desejar terminar o livro, sem nunca o ter começado. O romance entre a Marisa e o René, por exemplo: no mesmo dia, ele passa de convencido a um santo que merece pena, contando a Marisa fragmentos do seu passado que nunca poderia ter contado com total indiferença e falta de tacto a uma desconhecida. E no mesmo dia, beijam-se e passam a amar-se. O último diálogo entre ambos parecia uma conversa de final de história, quando era a primeira vez que se falavam. Achei surreal. Depois, as incoerências e um afastar da realidade que tornou os acontecimentos algo ridículos, a meu ver.

Alguns exemplos:

- Um paciente em falência hepática chega ao hospital, é prontamente levado ao bloco de cirurgia e nem meia hora depois já tem o órgão compatível de que necessita para fazer um transplante. Era bom que assim fosse, mas existem listas de espera intermináveis nestes casos e muitas vezes não chega a haver compatibilidade, nem órgãos disponíveis;

- Pessoas a entrarem a gritar pelos corredores do hospital e terem acesso aos blocos cirúrgicos;

- Enfermeiras a gritar nos corredores com um intruso cidadão ao lado (que entrou no hospital e dirigiu-se logo a uma enfermeira - não existem recepções/cartões de visita?) - Ninguém pode entrar assim num hospital - como estava a dizer, enfermeiras a gritar pelo cirurgião e este a aparecer em seguida para tratar de um doente com gripe;

- Uma ministra da saúde que trata os outros abaixo de cão e que não faz mais nada, senão jogar solitária o dia inteiro no seu escritório, com uma poltrona por debaixo do rabo e com o ar-condicionado ligado no máximo, só "por descuido ou porque o seu salário o permite"... Compreendo que o autor tentava aqui fazer alguma crítica social ao País em que vivemos, mas não soube fazê-la. Não me parece que seja o método adoptado pela nossa ministra.

- Uma secretária de ministra que sai a correr em busca da ministra e que, no percurso, ao invés de pensar em algo relacionado com o sucedido, pensa em como desejara um dia ser atleta de alta competição e como os apoios no nosso País são escassos para todos os desportistas (penso que o autor queria aqui exaltar talvez alguns dos seus próprios pensamentos, como penso que fez ao longo do livro com todos os personagens, o que fez com que nenhuma das personagens tivesse carácter - todos tinham fragmentos do carácter do autor);

- Um René que, num capítulo que não tem razão de existir, vai ao psicólogo para se anunciar louco e em que o dito psicólogo o apalpa...onde? não compreendi a razão disto e dos pensamentos posteriores do psicólogo que não aparece mais...para não falar que o René saiu de casa onde mantinha cativa Marisa entretanto - o leitor não sabe como. (Confuso).

Tudo o resto foi uma sequência de acontecimentos envolvendo ladrões e polícia que mais parecia um filme, tudo tão rápido que só tive tempo de arregalar os olhos com a surpresa.

Cheguei cansada ao fim do livro, isto porque aquelas míseras páginas pareciam não ter fim. Peço desculpa ao autor, que escreve, apesar de tudo, quase sem erros e de forma fluída, mas a história e os personagens não resultaram. Acho que a obra é fruto de alguma imaturidade. Penso que, para primeiro livro, o autor deveria ter escolhido um tema com o qual se familiarizasse, desporto, talvez, já que é jornalista desportivo. Espero que o autor possa procurar leitores-beta que o ajudem a melhorar os seus futuros trabalhos.
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terça-feira, 1 de abril de 2014

Opinião: «Lolita», de Vladimir Nabokov

Uma obra perturbadoramente bela com uma escrita e um encadeamento sublimes, que me despertou sentimentos controversos.
 
 
 
 
 
 
 
Durante grande parte da história, considerei Humbert um homem nojento e cobarde. Nojento, por não se impedir de fazer o que faz a Lolita, mesmo tendo momentos de lucidez, em que tem consciência dos erros que comete. Cobarde, por ser tão tímido, tão pacato e inerte como uma lagartixa a repousar ao sol. Tudo lhe cai no colo e deu-me a entender, quase até meio do livro, que queria mostrar-se inocente, aos olhos dos leitores, dos seus pecados. Não era capaz de fazer mal a Lolita, não de uma forma violenta, e tudo o que queria era aproveitar-se dela, sem ter de a enfrentar, com um receio que tornou Humbert aos meus olhos ainda mais abominável.
 
Primeiro, tem a sorte de se casar com a mãe de Lolita, somente porque ela o ama. Depois, vê-a morrer na estrada, por acidente, quando tantas vezes sonhara em matá-la, sem nunca ser capaz de o fazer. Mais tarde, tenta manipular Lolita, e como os comprimidos não resultam, o autor arranja uma forma brilhante de inocentar novamente Humbert o maníaco, descrevendo Lolita como a adolescente ousada (mais do que parecia ser), sendo mesmo ela que acaba por seduzi-lo. Mais uma vez, o destino está sempre do lado de Humbert e isto irritou-me muito.
 
Esperava um pedófilo violento, preto no branco, embora já conhecesse os contornos da história, através do filme que vi há muitos anos. Esperava alguma bravura por parte deste Humbert para concretizar os seus planos. Este amante de ninfitas pacato e doce provocou-me arrepios, porque escondia tão bem a maldade do leitor que eu já sabia que ele seria o pior dos maníacos. Isto pôs-me a pensar nas características de um pedófilo e ver a história de Humbert retractada na primeira pessoa assustou-me muito.
 
O que dizer de Lolita? Uma menina de doze anos sem dúvida diferente, ousada, também ela pervertida, que acaba por ajudar ao jogo a que, de qualquer forma, não escaparia. Talvez a sua ousadia a tenha salvo, mas gostava de saber mais sobre ela, sobre a visão dela das coisas. A história contada na primeira pessoa, pela voz de Humbert, limita muito a imaginação do leitor em relação a esta Lolita, e só mesmo no final do livro é que Humbert nos mostra um pouco o relato da criança sofrida que ela mostrava ser, quando tentava esconder as lágrimas. O que é que ela sentiu com tudo isto? Como é que esta experiência mudou a vida dela? Sei que esta história é sobre Humbert Humbert, o "pai" incestuoso, mas ficou este vazio em relação à menina de doze anos que o leva à loucura.
 
Ao longo do livro, os meus sentimentos foram mudando. Humbert tornou-se mais aquilo que esperava dele: ciumento, possessivo, violento, e Lolita mais aquilo que esperava dela: uma criança estragada pela vida que a obrigaram a viver, ansiosa por uma fuga.
Foi uma obra que me prendeu até ao último minuto, pela escrita magnífica, pelo enredo e pelos personagens excelentemente retractados, e sobretudo pelos pensamentos, alucinações e loucura de Humbert. Chorei pela vida desta criança, pela infância que perdeu e por todas as violações que foi obrigada a suportar, mas creio que chorei também por Humbert, não diria por pena, talvez seja demasiado benevolente, mas amargura pelo tormento da sua mente, que nunca o abandonou. O vício ou a doença, chamemos-lhe, que o contaminava, consumiu-o e devorou-o e não restou nada daquele homem aparentemente doce, que não desejava bater, nem violar. Desejava apenas o prazer carnal e o amor proibido de uma criança. "Não a podia matar a ela, claro, como alguns pensaram. Compreendem, eu amava-a. Foi amor à primeira vista, à última vista, a todas as vistas". Confesso que não esperava por isto. Este homem aparentemente louco conseguiu, em algum momento de lucidez, dar uma enorme quantia de dinheiro à sua Lolita e deixá-la partir para a felicidade. De alguma forma, este desfecho deu-me alguma paz.
Vladimir Nabokov era, sem dúvida, um grande escritor. «Lolita» é um clássico a não perder.
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quarta-feira, 5 de março de 2014

Opinião «A Filha do Barão» - Célia Loureiro

Dou cinco estrelas a um livro quando considero que não lhe falta nada, nem uma boa escrita, nem interesse e emoção num bom enredo que nos leva a ler a história de um sopro. «A Filha do Barão» merece-o. É um romance bem delineado, sem pontas soltas: um bom enredo, com bons personagens e uma pesquisa histórica interessante e contada de forma leve, sem maçar o leitor.





A escrita da Célia já me era conhecida e nunca tive dúvidas quanto ao seu talento, mas confesso que não consigo encontrar semelhanças entre esta escrita e a da obra «O Funeral da nossa mãe», que tive a oportunidade de ler. A autora soube reinventar-se ao escrever esta história de forma sublime, com uma linguagem adequada à época, diálogos tão bons que nos obrigam a mergulhar na história e a devorá-la, amando e odiando personagens simultaneamente.
Em primeiro lugar, a Mariana: rebelde, caprichosa, teimosa e generosa, amiga, amante, um pilar, uma força da natureza. Adorei-a desde o princípio, sorri e sofri com ela, mas também me entristeci com algumas das suas atitudes, o que só a tornam humana. Não é perfeita e este facto foi o que me levou a amá-la desde o primeiro momento: "Como é ela?", perguntavam constantemente a Daniel. E ele respondia, encolhendo os ombros: "É pequena, uma criança. Parece uma cigana de beira de estrada". Este é o primeiro ponto forte da história. Como a própria autora me revelou, não é fácil amar o feio, o pouco desejável, e é por esse motivo que é tão interessante ver a relação entre Daniel e Mariana crescer. Pois esta criança, pequena, lisa como uma tábua e teimosa a ponto de obrigar qualquer um a levá-la ao café do Comércio comer um gelado de chocolate, sempre de chocolate, foi sempre o pilar da história e eu amei-a como a uma amiga de longa data. Achei-a demasiado egoísta e caprichosa mais para o final da história, mas quem lhe poderia tirar a liberdade que sempre lhe correu no sangue? Quem a podia condenar por desejar sair da solidão, da melancolia e da tragédia, que nunca fizeram parte do seu carácter?
Gostei do Daniel e dos seus princípios desde o início. Não sei porquê, mas sempre pensei que ele tinha alguma malícia em relação à Mariana e que seria, em parte, um pouco o vilão da história, mas surpreendeu-me pela positiva. O Gustave foi, para mim, uma alma bondosa que me trouxe paz e amor no meio da guerra, ao passo que Daniel me transmitia sempre inquietação e o desejo que Mariana sentia por ele. Pobre Gustave...
O livro está tão cheio de personagens boas que é difícil falar de todas elas, mas destaco ainda D. Sofia, a quem odiei, mas acabei por perdoar, a bondade de D. João, a velha Nuna, que me deixou um peso no coração, Artur, que me fez rir, Zé e a sua ingenuidade, e até Elizabeth e Joaquim, por cujo amor sempre torci. E aquele final? ai, o final...quanto tempo teremos de esperar para saber a continuação? Quero muito que seja verdade. Adorei este desfecho.
A escrita: limpinha, bonita, arrebatadora, como a autora já nos habituou, com um toque de romance ousado que não conhecia da Célia e que amei. Parabéns, Célia! Tens aqui uma obra com «O» maiúsculo e sei o quanto te esforçaste para a ter assim, linda, no papel. Mereces todas estas estrelinhas. Força. Sabes que estarei sempre deste lado a apoiar-te e a partilhar esta paixão que são letras, são palavras e são sentimentos. São amores, são paixões, são histórias, são sonhos. Fizeste-me feliz e acho que é essa a função de um autor: fazer feliz quem nos lê. Um enorme beijinho e continua sempre. Escreve como se o amanhã fosse um número fora do calendário :)
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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Opinião «Entre o agora e o nunca», de J. A. Redmerski

Um romance fofinho com uma boa dose de pimenta que se tornou, para mim, viciante. Li-o em dois dias sofregamente. Queria saber mais e mais sobre a Cameryn e o Andrew, à medida que as páginas iam voando nas minhas mãos. Uma leitura leve e descontraída até meio do livro, que se tornou impulsiva, enquanto a relação entre ambos ia desabrochando.






A autora sabe, sem dúvida, espicaçar o interesse do leitor e jogou uma boa cartada final, que me ia fazendo parar o coração e que me levou a emocionar-me várias vezes. Não gostei muito da linguagem usada, especialmente o uso de palavrões, mas consegui inseri-los bem em cada um dos personagens. Adorei o Andrew, especialmente, pelo seu carácter livre, divertido e romântico ao seu jeito peculiar. A Cameryn, a meu ver, como personagem principal, não me cativou, embora tenha compreendido os motivos que lhe moldavam o carácter. Acho que ela só era forte junto do Andrew, o grande alicerce da história. Andei até ao final sem saber se a obra merecia, de facto, as cinco estrelas, mas aquele final arrebatou-me. Adorei as tatuagens e os seus motivos e, claro, aquele último presente que a autora nos concedeu. Muito romântico. Cá aguardo o segundo volume para saber que outras surpresas tem a autora preparadas.
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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Opinião «A rapariga que roubava livros»

Tinha tudo para lhe dar cinco estrelas, mas o final ficou aquém das minhas expectativas. Tantas questões por responder, tanta chacina...eu sei, é a guerra, mas acima de tudo, «A rapariga que roubava livros» é um livro e Liesel merecia mais. Rudy merecia mais. E até Max. Não havia necessidade de acabar com tudo daquela forma, tão triste, tão desumano. Para onde foi Max? O que lhe aconteceu? Quem era o marido e os três filhos de Liesel? O narrador dá-nos tantos pormenores desta rapariga que roubava livros ao longo da história e depois deixa-nos sem nada, quando queríamos tudo. Já nos apaixonámos por ela, já nos apaixonámos por Rudy, e depois? Nem um beijo, saumesh?






Markus Zusak, destruíste todos os meus sonhos a meio do livro e depois pegaste neles e cortaste-lhes cada pedacinho do corpo já morto. Como se isso não bastasse, lançaste o que restava dos sonhos à fogueira dos capachos de Hitler e dessa vez não havia nenhuma rapariga de dez anos pronta a resgatá-los.
É um livro sublime, contado de uma forma original, poética, dramática e humorística ao mesmo tempo. Adorei Liesel e a sua relação com as palavras e os livros, adorei Max e «O homem debruçado». E o que dizer de «A sacudidora de palavras»? Perfeito, uma das cenas mais bonitas do livro e que me fez chorar. Fez-me chorar também a parada dos judeus em que Hans Hubermann dá pão a um judeu, a cena em que Rudy e Liesel espalham pão ao longo do caminho e uma outra, quando a rapariga encontra Max e lhe recorda a sua história. Amizade. É disso que se trata, não é? Uma árvore de amizade que ninguém pode destruir, nem um partido, nem uma religião, nem a guerra e a sede de poder. Uma das partes mais emocionantes da história, mas...E Hans Hubermann? Não, Markus, não podias ter-lhe feito o que fizeste. É imperdoável. Adorei este homem de olhos de prata. Tinhas de lhe ter dado mais tempo, a ele e a Liesel. Eles precisam um do outro e do seu acordeão, nas noites de pesadelo e de leituras escondidas. Meu Deus, arruinaste as minhas noites e os meus dias calmos. Jamais voltarão a ser calmos. E em noites de pesadelo, sei que verei de novo Liesel e Rudy juntos na alfaiataria do pai dele, mas desta vez, eles beijam-se no chão, quando ele tropeça e cai aos pés dela. E quando Liesel lhe mostrar o livro escrito por Max, Rudy perguntar-lhe-á, da mesma forma: "Falaste-lhe de mim?" E ela dirá, da mesma forma: "É claro que lhe falei de ti". E acrescentará: "Amo-te. Amei-te sempre. Não o sabes? Beija-me, saurkel".
Parabéns, Markus Zusak. Cá estarei à espera de mais uma obra tua, para que me destruas os sonhos que ainda me restam. Sim, é tão irónico quanto a morte: beleza e dor ao mesmo tempo. Quem não a aprecia?(less)
                  
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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Giveaway no Goodreads

Caros leitores,
está a decorrer no Goodreads um Giveaway do livro «As Gotas de um beijo», da minha autoria, editado e publicado pela Alfarroba Edições, em Novembro de 2013.




Isto significa, nada mais, nada menos, que vou oferecer um livro autografado, com direito a um marcador, a um dos participantes. Não custa nada, basta um click no link abaixo, e podem ter este romance nas vossas mãos de forma gratuita. Participem! ;)

https://www.goodreads.com/giveaway/show/77397-as-gotas-de-um-beijo
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Fotografia

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