Bem, por onde começar? Este livro causou-me sentimentos ambíguos: Começou muito bem, com aquela parte contemporânea arrebatadora que me fez entrar no livro de cabeça. A Liliana tem este dom: arrastar o leitor para o seu mundo, levá-lo a esquecer-se de onde está e fazer tão parte da história como qualquer um dos outros personagens. Tudo, desde o pedido de amizade de Henrique a Sara, me viciou e me deixou presa àquelas páginas. Eu, menina dos romances contemporâneos, não pude resistir ao amor que toda a história prometia e confesso que adorei os dois: o Henrique, no seu lado calmo e sensato, e a Sara, a chama acesa, mas também Pedro, um cómico com algumas saídas muito engraçadas, a Bia, com uma personalidade viva que a leva a ser frontal de uma forma especial, e até Olga e André: amei estes dois. Sou fã de badboys e badgirls e eles estavam excelentemente caracterizados. Aquela cena na praia entre os dois está simplesmente perfeita e confesso que o André, com aquela sua obsessão pela Sara, sempre me fascinou: um homem rude e agressivo, que se torna um anjo perto dela. A Liliana é muito boa nestas cenas fortes.
Tenho de admitir, por outro lado, que detestei a Isabel: uma cópia da Sara e um pau mandado, sem personalidade e vontades próprias. Só a explicação final das suas atitudes me levou a tolerá-la ligeiramente.
Quando Henrique chega a Portugal, vê a nova Sara e conhece Isabel, a irmã dela, a coisa caiu-me mal: revoltou-me um bocado que ele se sentisse atraído por ela só pelas semelhanças que tem com a irmã e irritou-me o facto de nem se interessar em saber o motivo pelo qual Sara mudara tanto. É claro que tudo isto tem uma explicação mais à frente e eu agradeci mentalmente à Liliana por isso, mas a verdade é que aquilo que senti na altura não se apagou e custou-me. Desiludi-me com o Henrique e com a sua falta de tacto. Depois, esperava outro reencontro, mais intenso, mais verdadeiro, mais tudo...eu sei que eles estiveram sete anos separados, mas a minha visão romântica das coisas não pôde deixar de se recriminar pela forma como tudo acontecia. No entanto, tenho a dizer que a entrada da Isabel em cena fez com que eu temesse pelo amor entre os dois personagens principais e isso é bom! É o que se quer!
Acordei do livro, por assim dizer, quando a viagem a Itália se inicia. Deixei-me aborrecer nesta parte: a distância que existia entre Henrique e Sara, quando eu só queria que falassem do passado e de tudo aquilo que ficou por dizer, não ajudou. As discussões intensas, a atitude estúpida do Henrique...tudo me magoou...e confesso que com tudo isto, já me tinha esquecido que isto era uma história sobrenatural. E é aqui que entra o livro e a gata que fala: Haari. Acho que, com o esquecimento e no meio do sofrimento que sentia por Henrique e Sara, não estava preparada para isto. O sobrenatural custou-me a entrar, quando a parte contemporânea estava tão boa, e o que senti a partir daqui foi um pouco estranho: era como se estivesse a ler duas histórias distintas, sem grande interligação; quando os problemas de uma ainda não estavam resolvidos, entraram os de outra e eu dei por mim a desejar regressar ao Palhinhas, a André, a Paulo e a Bia, a minha zona de conforto onde tinha sido tão feliz no início da história.
É quando Henrique e Sara regressam a Portugal que a acção recomeça e, entre partes contemporâneas e sobrenaturais, dei por mim a entender o encaixe de cada ponta solta e a adorar o livro, mais uma vez. Apaixonei-me pela Haari, pela nova relação entre Sara e Henrique e por todos os problemas que existiam entre este mundo e o outro. Confesso que li as últimas páginas sofregamente, com medo do que pudesse acontecer! Suspirei de alívio quando o final foi exactamente o que eu esperava: lindo! Só senti falta da Bia e do Paulo: queria muito que se entendessem! Talvez num próximo volume?
Obrigada, Liliana, e parabéns por mais esta história e este mundo para o qual me arrastaste e para o qual me deixei ir de livre vontade, onde fui muito feliz. Outras obras se aguardam e...nunca deixes de escrever! :)
Deixo abaixo um excerto da obra, de uma das minhas cenas preferidas:
- Neste momento, o que me preocupa é que, de forma inconsciente, possas estar a olhar para a Isabel e a ver a Sara. E que talvez tarde demais descubras que a semelhança entre as duas se limita ao que o espelho mostra. A Isabel não é a tua amiga de infância; não foi com ela que aprendeste a ler e a escrever; não foi com ela que construíste a casa da árvore que ainda hoje está no jardim; e não é ela que está a precisar de ti neste momento".